segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Barcelona



Sim, eu sei. Falar que Bracelona é linda, animada, "jovem" (acreditem, para quem mora na Europa, isso faz a maior diferença), tem um clima bom e boa comida virou quase um cliché.

Para falar bem a verdade, eu torcia um pouco o nariz, achava que tudo isso não passava de uma grande moda, e que daqui a alguns anos a cidade "cool" viraria uma outra, qualquer outra, tão jovem quanto, tão animada quanto, etc.

Mas não é que tive que me render aos encantos de Barcelona? Realmente, pareceu-me uma cidade quase perfeita para visitar e morar. A cidade é linda, limpa, alterna bem propostas culturais com diversão ao ar livre, tem praia (nao muito bonita, mas melhor que não ter...), enfim, me pareceu quase perfeita não fosse o catalão (não entendi nada) e aquela secura que desidrata até camelo.

Mas na verdade, queria falar sobre a culinària local, que é extraordinària.

Mais precisamente, queria falar sobre o Sagardi. Sagardi é um bar de tapas, que na verdade é basco, mas combina perfeitamente com Barcelona. Fica instalado numa pracinha no meio do bairro gotico. O principio do bar é o seguinte: eles possuem um enooooorme balcão onde vão colocando pratos cheinho de "pintchos" que saem da cozinha a todos os instantes. Os pintchos são os mais variados e são simplesmente deliciosos.

Cada grupo recebe um prato e fica instalado de pé no balcão ou em uma das poucas mesas. Você mesmo pega o pintcho que quiser e deixa o palito em cima do prato. Simples assim. Você pega o pintcho, não comunica a ninguém, dà umas três mordidas e joga o palito no prato. E por ai vai. Cada pintcho custa 1,80 euros. E ai mora o perigo. Individualmente, eles não são caros, especialmente pela qualidade e pelos produtos utilizados (bacalhau, camarão, jamon serrano, etc). No final, você dà seu prato ao garçon e ele conta os palitos e anuncia a conta. E ai, meu amigo, segure-se. Um endereço "incontournable", come eles dizem por aqui.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Fechado para balanço

Desde a ultima vez que escrevi nesse blog, muita coisa rolou. Fui ao Brasil, reencontrei familia, amigos, cachorro, minha cidade. Vi o mar, impressionei-me com o "cidade limpa", respeitei a lei seca, impressionei-me com o boom econômico e com o otimismo das pessoas.
Sentei-me no terraço e tomei sol em pleno inverno, deparei-me com a inflação dos alimentos, comprovei que o metrô de São Paulo era tão limpo e tão mais agradàvel quanto nas minhas lembranças.
Vi meus amigos melhor profissionalmente, e mais bonitos. Achei todo mundo melhor do que quando eu fui. Os garçons não estavam de mau-humor. Nem no Rio de Janeiro.
Fui a Pernambuco. Estive numa viagem louca numa praia praticamente deserta, num dos lugares mais bonitos em que jà estive na vida. Um lugar onde a àgua do mar é mais quente do que a do chuveiro e onde as pessoas andam de jangada e jantam às 18h30.
Voltei apaixonada por Pernambuco. O Rio de Janeiro continua lindo, mas achei os prédios meio decadentes. Sobretudo comparado a São Paulo, que continua meio feia, mas mais limpa e cada dia mais rica.
Tive mil reflexões durante todo esse periodo. Brasileiro gosta de reclamar, mas a classe média paulistana vive bem para burro. Todo mundo mora em apartamento super grande, bem decorado e ainda por cima tem faxineira. Todo mundo està viajando como nunca viajou antes. Serà a tal emergência definitiva dos paises emergentes?
Segundo, deixei matéria preciosissima no Brasil. Matéria humana. E disso a gente nunca se recupera.
Pensei em não voltar para a França. Pensei que seria uma burrice sem tamanho não voltar. Pensei que de toda a maneira, jà não pertenço a lugar nenhum, e quando acordo no meio da noite, não sei mais onde estou. Então manda bala.
Percebi que esse negocio de encarar uma experiência como definitiva nunca foi a minha mesmo. E quando pensei que ao invés de encarar Paris como minha cidade eterna, poderia pensar "so me resta um ano naquele pais, naquela cidade", então, senti tudo aquilo fugindo entre meus dedos como se fosse areia, e de repente, tudo ficou mais leve.
Pois no Brasil, sou mais livre e menos livre. Uma liberdade dilapidada, como diria o Numa. Nada de passeios pela rua às 3 da manhã, sozinha. E na França, sou mais livre e menos livre. Por motivos completamente diferentes.
No final, estava mais forte. Chorei antes de ir embora. A saudades às vezes pode beirar ao insuportàvel. Mas como disse a mulher da policia federal "chora não. Hoje em dia tem internet, orkut e skype". Ela entendeu quase tudo.
Voltei e fui direto para Barcelona. A Europa me reconquistou. Ainda sou jovem. Ainda é muito cedo para viver definitivamente.